Poesia: Fernando Pessoa - Antologia - Parte 3 - CHUVA OBLICUA - LLUVIA OBLICUA - 8-3-1914 - Em Portugues y Español
Posted by Ricardo Marcenaro | Posted in Poesia: Fernando Pessoa - Antologia - Parte 3 - CHUVA OBLICUA - LLUVIA OBLICUA - 8-3-1914 - Em Portugues y Español | Posted on 12:16
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Abra su mente, su corazón a otras culturas
You will be a better person
Usted será una mejor persona
RM
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RM
Fernando Pessoa
Portugal
CHUVA OBLICUA
8-3-1914
I
ATRAVESSA esta paisagem o meu sonho dum porto infinito
E a cor das flores é transparente de as velas de grandes navios
Que largam do cais sarrastando nas águas por sombra
Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...
O porto que sonho é sombrio e pálido
E esta paisagem é cheia de sol deste lado...
Mas no meu epírito o sol deste dia é porto sombrio
E os navios que saem do porto são estas árvores ao sol...
Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo...
O vulto do cais é a estrada nítida e calma
Que se levanta e se ergue como um muro,
E os navios passam por dentro dos troncos das árvores
Com uma horizontalidade vertical,
E deixam cair amarras na água pelas folhas uma a uma dentro.
Não sei quem me sonho...
Súbito toda a água do mar do porto é transparente
E vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá estivesse
desdobrada,
Esta paisagem toda, renque de árvore, estrada a arder em
aquele porto,
E a sombra duma nau mais antiga que o porto que passa
Entre o meu sonho do porto e o meu ver esta paisagem
E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,
E passa para o outro lado da minha alma...
II
Ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia,
E cada vela que se acende é mais chuva a bater na vidraça...
Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso,
E as vidraças da igreja vistas de fora são o som da chuva ouvido
por dentro...
O esplendor do altar-mor é o eu não poder quase ver os montes
Através da chuva que é ouro tão solene na toalha do altar...
Soa o canto do coro, latino e vento a sacudir-me a vidraça
E sente-se chiar a água no fato de haver coro...
A missa é um automóvel que passa
Através dos fiéis que se ajoelham em hoje ser um dia triste...
Súbito vento sacode em esplendor maior
A festa da catedral e o ruído da chuva absorve tudo
Até só se ouvir a voz do padre água perder-se ao longe
Com o som de rodas de automóvel...
E apagam-se as luzes da igreja
Na chuva que cessa...
III
A Grande Esfinge do Egito sonha pôr este papel dentro...
Escrevo — e ela aparece-me através da minha mão transparente
E ao canto do papel erguem-se as pirâmides...
Escrevo — perturbo-me de ver o bico da minha pena
Ser o perfil do rei Quéops...
De repente paro...
Escureceu tudo... Caio por um abismo feito de tempo...
Estou soterrado sob as pirâmides a escrever versos à luz clara deste
candeeiro
E todo o Egipto me esmaga de alto através dos traços que faço com
a pena...
Ouço a Esfinge rir por dentro
O som da minha pena a correr no papel...
Atravessa o eu não poder vê-la uma mão enorme,
Varre tudo para o canto do teto que fica por detrás de mim,
E sobre o papel onde escrevo, entre ele e a pena que escreve
Jaz o cadáver do rei Quéops, olhando-me com olhos muito
abertos,
E entre os nossos olhares que se cruzam corre o Nilo
E uma alegria de barcos embandeirados erra
Numa diagonal difusa
Entre mim e o que eu penso...
Funerais do rei Quéops em ouro velho e Mim!...
IV
Que pandeiretas o silêncio deste quarto!...
As paredes estão na Andaluzia...
Há danças sensuais no brilho fixo da luz...
De repente todo o espaço pára...,
Pára, escorrega, desembrulha-se...,
E num canto do teto, muito mais longe do que ele está,
Abrem mãos brancas janelas secretas
E há ramos de violetas caindo
De haver uma noite de Primavera lá fora
Sobre o eu estar de olhos fechados...
V
Lá fora vai um redemoinho de sol os cavalos do carroussel...
Árvores, pedras, montes bailam parados dentro de mim...
Noite absoluta na feira iluminada, luar no dia de sol lá fora,
E as luzes todas da feira fazem ruídos dos muros do quintal...
Ranchos de raparigas de bilha à cabeça
Que passam lá fora, cheias de estar sob o sol,
Cruzam-se com grandes grupos peganhentos de gente que anda
na feira,
Gente toda misturada com as luzes das barracas, com a noite e
com o luar,
E os dois grupos encomtram-se e penetram-se
Até formarem só um que é os dois...
A feira e as luzes da feira e a gente que anda na feira,
E a noite que pega na feira e a levanta no ar,
Andam por cimas das copas das árvores cheias de sol,
Andam visivelmente por baixo dos penedos que luzem ao sol,
Aparecem do outro lado das bilhas que as raparigas levam à
cabeça,
E toda esta paisagem de primavera é a lua sobre a feira,
E toda a feira com ruídos e luzes é o chão deste dia de sol...
De repente alguém sacode esta hora dupla como numa peneira
E, misturado, o pó das duas realidades cai
Sobre as minhas mãos cheias de desenhos de portos
Com grandes naus que se vão e não pensam em voltar...
Pó de oiro branco e negro sobre os meus dedos...
As minhas mãos são os passos daquela rapariga que abandona a
feira,
Sozinha e contente como o dia hoje...
VI
O maestro sacode a batuta,
E lânguida e triste a música rompe...
Lembra-me a minha infância, aquele dia
Em que eu brincava ao pé dum muro de quintal
Atirando-lhe com uma bola que tinha dum lado
O deslizar dum cão verde, e do outro lado
Um cavalo azul a correr com um jockey amarelo...
Prossegue a, música, e eis na minha infância
De repente entre mim e o maestro, muro branco,
Vai e vem a bola, ora um cão verde,
Ora um cavalo azul com um jockey amarelo...
Todo o teatro é o meu quintal, a minha infância
Está em todos os lugares, e a bola vem a tocar música,
Uma música triste e vaga que passeia no meu quintal
Vestida de cão verde tornando-se jockey amarelo...
(Tão rápida gira a bola entre mim e os músicos...)
Atiro-a de encontro à minha infância e ela
Atravessa o teatro todo que está aos meus pés
A brincar com um jockey amarelo e um cão verde
E um cavalo azul que aparece por cima do muro
Do meu quintal... E a música atira com bolas
A minha infância... E o muro do quintal é feito de gestos
De batuta e rotações confusas de cães verdes
E cavalos azuis e jockeys amarelos...
Todo o teatro é um muro branco de música
Por onde um cão verde corre atrás de minha saudade
Da minha infância, cavalo azul com um jockey amarelo...
E dum lado para o outro, da direita para a esquerda,
Donde há árvores e entre os ramos ao pé da copa
Com orquestras a tocar música,
Para onde há filas de bolas na loja onde a comprei
E o homem da loja sorri entre as memórias da minha infância...
E a música cessa como um muro que desaba,
A bola rola pelo despenhadeiro dos meus sonhos interrompidos,
E do alto dum cavalo azul, o maestro, jockey amarelo tornando-se
preto,
Agradece, pousando a batuta em cima da fuga dum muro,
E curva-se, sorrindo, com uma bola branca em cima da cabeça,
Bola branca que lhe desaparece pelas costas abaixo...
Traducción y presentación:
Miguel Ángel Flores
LLUVIA OBLICUA
8-3-1914
I
ATRAVIESA este paisaje mi sueño de un puerto infinito
Y el color de las flores se transparenta en las velas de grandes
navíos
Que zarpan del muelle arrastrando sobre las aguas cual sombra
Los rostros al sol de aquellos árboles antiguos...
El puerto que sueño es sombrío y pálido
Y el paisaje está lleno de sol de este lado...
Mas en mi espíritu el sol de este día es puerto sombrío
Y los navíos que salen del puerto son estos árboles al sol...
Liberado dos veces, me abandono al paisaje de abajo...
El rostro del muelle es el camino nítido y en calma
Que al elevarse se yergue como un muro,
Y los navíos pasan por dentro de los troncos de los árboles
Con una horizontalidad vertical,
Y dejan caer en el agua las amarras dentro de las hojas una a una..
No sé quien me sueño...
De súbito toda el agua del mar del puerto es transparente
Y veo en el fondo, como una estampa enorme que allí estuviese
desdoblada,
Todo este paisaje, hilera de árboles, camino que arde en aquel
puerto,
Y la sombra de una nao más antigua que el puerto pasa
Entre mi sueño del puerto y mi mirar de este paisaje
Y llega al pie de mí, y en mí se adentra,
Y pasa al otro lado de mi alma...
II
Se ilumina la iglesia dentro de la lluvia de este día,
Y cada vela que se enciende es más lluvia que golpea en el vitral...
Me alegra oír la lluvia porque ella es el templo encendido,
Y los vitrales de la iglesia vistos por fuera son el sonido
de la lluvia oído por dentro...
El esplendor del altar mayor es que casi no pueda ver los montes
A través de la lluvia que es oro tan solemne en el mantel del altar..
Suena el canto del coro, en mí latín y viento sacuden el vitral
Y el chirriar del agua en el hecho de haber coro...
La misa es un automóvil que pasa
A través de los fieles que se arrodillan hoy que es un día triste...
De repente el viento sacude un esplendor mayor
La fiesta de la catedral y el ruido de la lluvia todo lo absorbe
Hasta sólo oírse la voz del padre agua perdiéndose a lo lejos
Con el ruido de las llantas del automóvil...
Y se apagan las luces de la iglesia
En la lluvia que cesa...
III
La Gran Esfinge de Egipto sueña por este papel adentro...
Escribo — y ella se me aparece a través de mi mano transparente
Y en la orilla del papel se yerguen las pirámides...
Escribo — y me perturba ver que el punto de mi pluma
Es el perfil del rey Keops...
De repente me detengo...
Oscureció todo... Caigo en un abismo hecho de tiempo...
Enterrado bajo las pirámides escribo versos a la luz clara de este
candelero
Y todo Egipto me aplasta desde lo alto a través de los trazos que
hago con la pluma...
Oigo a la Esfinge reír por dentro
El sonido de mi pluma corre sobre el papel...
Una mano enorme atraviesa el que yo no puedo verla,
Barre todo hacia el borde del techo que está detrás de mí,
Y sobre el papel donde escribo, entre él y la pluma que escribe,
Yace el cadáver del rey Keops, mirándome con los ojos muy
abiertos,
Y entre nuestras miradas que se cruzan corre el Nilo
Y una alegría de barcos abanderados errando va
En una diagonal difusa
Entre mí y lo que yo pienso...
¡Funerales del rey Keops en oro viejo y Mí!...
IV
¡Qué panderetas el silencio de este cuarto!...
Las paredes están en Andalucía...
Hay danzas sensuales en el brillo fijo de la luz...
De repente todo el espacio se detiene...,
Se detiene, se desliza, se enreda...,
Y en un rincón del techo, mucho más lejos de donde él está,
Abren manos blancas ventanas secretas
Y hay ramos de violetas cayendo
Por haber una noche de Primavera allá afuera
Sobre el yo estar de ojos cerrados...
V
Allá afuera van en remolino de sol los caballos del carrusel...
Árboles, piedras, montes bailan inmóviles dentro de mí...
Noche absoluta en la feria iluminada, luar en el día de sol allá
afuera,
Y todas las luces de la feria hacen ruidos de los muros del quintal...
Rondas de muchachas con cántaros en la cabeza
Que pasan allá fuera, plenas de estar bajo el sol,
Se cruzan con grandes grupos pegajosos de gente que anda en
la feria,
Gente mezclada con las luces de las barracas, con la noche y
con el luar,
Y los dos grupos se encuentran y se penetran
Hasta formar sólo uno que es los dos...
La feria y las luces de la feria y la gente que anda en la feria,
Y la noche que toma a la feria y la levanta en el aire,
Andan por encima de las copas de los árboles llenos de sol,
Andan visiblemente por abajo de los peñascos que lucen al sol,
Aparecen del otro lado de los cántaros que las muchachas
llevan sobre la cabeza,
Y todo este paisaje de primavera es la luna sobre la feria,
Y toda la feria con ruidos y luces es el suelo de este día de sol...
De repente alguien sacude como un tamiz esta hora doble
Y, mezclado, el polvo de las dos realidades cae
Sobre mis manos llenas de dibujos de puertos
Con grandes veleros que zarpan y no piensan regresar...
Polvo de oro blanco y negro sobre mis dedos...
Mis manos son los pasos de aquella muchacha que abandona la
feria,
Sola y contenta como el día de hoy...
VI
El maestro sacude la batuta,
Lánguida y triste irrumpe la música...
Me recuerda mi infancia, aquel día
En que jugaba al pie del muro de un patio
Lanzándole una pelota que tenía de un lado
El deslizar de un perro verde, y del otro lado
Un caballo azul que corría con jockey amarillo...
Prosigue la música, y he aquí en mi infancia
De repente entre mí y el maestro, muro blanco,
Va y viene la pelota, ora un perro verde,
Ora un caballo azul con un jockey amarillo...
Todo el teatro es mi patio, mi infancia
Está en todos los lugares, y la pelota viene a tocar música,
Una música triste y vaga que pasea en mi patio
Vestida de perro verde tornándose jockey amarillo...
(Tan rápida gira la pelota entre yo y los músicos...)
La lanzo contra mi infancia y ella
Atraviesa todo el teatro que está a mis pies
juega con un jockey amarillo y con un perro verde
Y un caballo azul que asoma por encima del muro
De mi patio... Y la música lanza pelotas
A mi infancia... Y el muro del patio está hecho de gestos
De batuta y de rotaciones confusas de unos perros verdes
Y caballos azules y jockeys amarillos...
Todo el teatro es un muro blanco de música
Por donde un perro verde corre tras de mi saudade
De mi infancia, caballo azul con un jockey amarillo...
Y de un lado a otro, de derecha a izquierda,
Donde hay árboles y entre las ramas al pie de la copa
Con orquestas para tocar música,
Para donde hay filas de pelotas en la tienda donde la compré
Y el hombre de la tienda sonríe entre las memorias de mi infancia..
Y la música cesa como un muro que se derrumba
La pelota rueda por el despeñadero de mis sueños interrumpidos,
y desde lo alto de un caballo azul, el maestro, jockey amarillo se
torna negro,
Agradece, colocando la batuta encima de la fuga de un muro,
Y se inclina, sonriendo, con una pelota blanca sobre la cabeza.
Pelota blanca que le desaparece por las cuestas...
Traducción
Miguel Ángel Flores
8-3-1914
I
ATRAVESSA esta paisagem o meu sonho dum porto infinito
E a cor das flores é transparente de as velas de grandes navios
Que largam do cais sarrastando nas águas por sombra
Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...
O porto que sonho é sombrio e pálido
E esta paisagem é cheia de sol deste lado...
Mas no meu epírito o sol deste dia é porto sombrio
E os navios que saem do porto são estas árvores ao sol...
Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo...
O vulto do cais é a estrada nítida e calma
Que se levanta e se ergue como um muro,
E os navios passam por dentro dos troncos das árvores
Com uma horizontalidade vertical,
E deixam cair amarras na água pelas folhas uma a uma dentro.
Não sei quem me sonho...
Súbito toda a água do mar do porto é transparente
E vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá estivesse
desdobrada,
Esta paisagem toda, renque de árvore, estrada a arder em
aquele porto,
E a sombra duma nau mais antiga que o porto que passa
Entre o meu sonho do porto e o meu ver esta paisagem
E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,
E passa para o outro lado da minha alma...
II
Ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia,
E cada vela que se acende é mais chuva a bater na vidraça...
Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso,
E as vidraças da igreja vistas de fora são o som da chuva ouvido
por dentro...
O esplendor do altar-mor é o eu não poder quase ver os montes
Através da chuva que é ouro tão solene na toalha do altar...
Soa o canto do coro, latino e vento a sacudir-me a vidraça
E sente-se chiar a água no fato de haver coro...
A missa é um automóvel que passa
Através dos fiéis que se ajoelham em hoje ser um dia triste...
Súbito vento sacode em esplendor maior
A festa da catedral e o ruído da chuva absorve tudo
Até só se ouvir a voz do padre água perder-se ao longe
Com o som de rodas de automóvel...
E apagam-se as luzes da igreja
Na chuva que cessa...
III
A Grande Esfinge do Egito sonha pôr este papel dentro...
Escrevo — e ela aparece-me através da minha mão transparente
E ao canto do papel erguem-se as pirâmides...
Escrevo — perturbo-me de ver o bico da minha pena
Ser o perfil do rei Quéops...
De repente paro...
Escureceu tudo... Caio por um abismo feito de tempo...
Estou soterrado sob as pirâmides a escrever versos à luz clara deste
candeeiro
E todo o Egipto me esmaga de alto através dos traços que faço com
a pena...
Ouço a Esfinge rir por dentro
O som da minha pena a correr no papel...
Atravessa o eu não poder vê-la uma mão enorme,
Varre tudo para o canto do teto que fica por detrás de mim,
E sobre o papel onde escrevo, entre ele e a pena que escreve
Jaz o cadáver do rei Quéops, olhando-me com olhos muito
abertos,
E entre os nossos olhares que se cruzam corre o Nilo
E uma alegria de barcos embandeirados erra
Numa diagonal difusa
Entre mim e o que eu penso...
Funerais do rei Quéops em ouro velho e Mim!...
IV
Que pandeiretas o silêncio deste quarto!...
As paredes estão na Andaluzia...
Há danças sensuais no brilho fixo da luz...
De repente todo o espaço pára...,
Pára, escorrega, desembrulha-se...,
E num canto do teto, muito mais longe do que ele está,
Abrem mãos brancas janelas secretas
E há ramos de violetas caindo
De haver uma noite de Primavera lá fora
Sobre o eu estar de olhos fechados...
V
Lá fora vai um redemoinho de sol os cavalos do carroussel...
Árvores, pedras, montes bailam parados dentro de mim...
Noite absoluta na feira iluminada, luar no dia de sol lá fora,
E as luzes todas da feira fazem ruídos dos muros do quintal...
Ranchos de raparigas de bilha à cabeça
Que passam lá fora, cheias de estar sob o sol,
Cruzam-se com grandes grupos peganhentos de gente que anda
na feira,
Gente toda misturada com as luzes das barracas, com a noite e
com o luar,
E os dois grupos encomtram-se e penetram-se
Até formarem só um que é os dois...
A feira e as luzes da feira e a gente que anda na feira,
E a noite que pega na feira e a levanta no ar,
Andam por cimas das copas das árvores cheias de sol,
Andam visivelmente por baixo dos penedos que luzem ao sol,
Aparecem do outro lado das bilhas que as raparigas levam à
cabeça,
E toda esta paisagem de primavera é a lua sobre a feira,
E toda a feira com ruídos e luzes é o chão deste dia de sol...
De repente alguém sacode esta hora dupla como numa peneira
E, misturado, o pó das duas realidades cai
Sobre as minhas mãos cheias de desenhos de portos
Com grandes naus que se vão e não pensam em voltar...
Pó de oiro branco e negro sobre os meus dedos...
As minhas mãos são os passos daquela rapariga que abandona a
feira,
Sozinha e contente como o dia hoje...
VI
O maestro sacode a batuta,
E lânguida e triste a música rompe...
Lembra-me a minha infância, aquele dia
Em que eu brincava ao pé dum muro de quintal
Atirando-lhe com uma bola que tinha dum lado
O deslizar dum cão verde, e do outro lado
Um cavalo azul a correr com um jockey amarelo...
Prossegue a, música, e eis na minha infância
De repente entre mim e o maestro, muro branco,
Vai e vem a bola, ora um cão verde,
Ora um cavalo azul com um jockey amarelo...
Todo o teatro é o meu quintal, a minha infância
Está em todos os lugares, e a bola vem a tocar música,
Uma música triste e vaga que passeia no meu quintal
Vestida de cão verde tornando-se jockey amarelo...
(Tão rápida gira a bola entre mim e os músicos...)
Atiro-a de encontro à minha infância e ela
Atravessa o teatro todo que está aos meus pés
A brincar com um jockey amarelo e um cão verde
E um cavalo azul que aparece por cima do muro
Do meu quintal... E a música atira com bolas
A minha infância... E o muro do quintal é feito de gestos
De batuta e rotações confusas de cães verdes
E cavalos azuis e jockeys amarelos...
Todo o teatro é um muro branco de música
Por onde um cão verde corre atrás de minha saudade
Da minha infância, cavalo azul com um jockey amarelo...
E dum lado para o outro, da direita para a esquerda,
Donde há árvores e entre os ramos ao pé da copa
Com orquestras a tocar música,
Para onde há filas de bolas na loja onde a comprei
E o homem da loja sorri entre as memórias da minha infância...
E a música cessa como um muro que desaba,
A bola rola pelo despenhadeiro dos meus sonhos interrompidos,
E do alto dum cavalo azul, o maestro, jockey amarelo tornando-se
preto,
Agradece, pousando a batuta em cima da fuga dum muro,
E curva-se, sorrindo, com uma bola branca em cima da cabeça,
Bola branca que lhe desaparece pelas costas abaixo...
Traducción y presentación:
Miguel Ángel Flores
LLUVIA OBLICUA
8-3-1914
I
ATRAVIESA este paisaje mi sueño de un puerto infinito
Y el color de las flores se transparenta en las velas de grandes
navíos
Que zarpan del muelle arrastrando sobre las aguas cual sombra
Los rostros al sol de aquellos árboles antiguos...
El puerto que sueño es sombrío y pálido
Y el paisaje está lleno de sol de este lado...
Mas en mi espíritu el sol de este día es puerto sombrío
Y los navíos que salen del puerto son estos árboles al sol...
Liberado dos veces, me abandono al paisaje de abajo...
El rostro del muelle es el camino nítido y en calma
Que al elevarse se yergue como un muro,
Y los navíos pasan por dentro de los troncos de los árboles
Con una horizontalidad vertical,
Y dejan caer en el agua las amarras dentro de las hojas una a una..
No sé quien me sueño...
De súbito toda el agua del mar del puerto es transparente
Y veo en el fondo, como una estampa enorme que allí estuviese
desdoblada,
Todo este paisaje, hilera de árboles, camino que arde en aquel
puerto,
Y la sombra de una nao más antigua que el puerto pasa
Entre mi sueño del puerto y mi mirar de este paisaje
Y llega al pie de mí, y en mí se adentra,
Y pasa al otro lado de mi alma...
II
Se ilumina la iglesia dentro de la lluvia de este día,
Y cada vela que se enciende es más lluvia que golpea en el vitral...
Me alegra oír la lluvia porque ella es el templo encendido,
Y los vitrales de la iglesia vistos por fuera son el sonido
de la lluvia oído por dentro...
El esplendor del altar mayor es que casi no pueda ver los montes
A través de la lluvia que es oro tan solemne en el mantel del altar..
Suena el canto del coro, en mí latín y viento sacuden el vitral
Y el chirriar del agua en el hecho de haber coro...
La misa es un automóvil que pasa
A través de los fieles que se arrodillan hoy que es un día triste...
De repente el viento sacude un esplendor mayor
La fiesta de la catedral y el ruido de la lluvia todo lo absorbe
Hasta sólo oírse la voz del padre agua perdiéndose a lo lejos
Con el ruido de las llantas del automóvil...
Y se apagan las luces de la iglesia
En la lluvia que cesa...
III
La Gran Esfinge de Egipto sueña por este papel adentro...
Escribo — y ella se me aparece a través de mi mano transparente
Y en la orilla del papel se yerguen las pirámides...
Escribo — y me perturba ver que el punto de mi pluma
Es el perfil del rey Keops...
De repente me detengo...
Oscureció todo... Caigo en un abismo hecho de tiempo...
Enterrado bajo las pirámides escribo versos a la luz clara de este
candelero
Y todo Egipto me aplasta desde lo alto a través de los trazos que
hago con la pluma...
Oigo a la Esfinge reír por dentro
El sonido de mi pluma corre sobre el papel...
Una mano enorme atraviesa el que yo no puedo verla,
Barre todo hacia el borde del techo que está detrás de mí,
Y sobre el papel donde escribo, entre él y la pluma que escribe,
Yace el cadáver del rey Keops, mirándome con los ojos muy
abiertos,
Y entre nuestras miradas que se cruzan corre el Nilo
Y una alegría de barcos abanderados errando va
En una diagonal difusa
Entre mí y lo que yo pienso...
¡Funerales del rey Keops en oro viejo y Mí!...
IV
¡Qué panderetas el silencio de este cuarto!...
Las paredes están en Andalucía...
Hay danzas sensuales en el brillo fijo de la luz...
De repente todo el espacio se detiene...,
Se detiene, se desliza, se enreda...,
Y en un rincón del techo, mucho más lejos de donde él está,
Abren manos blancas ventanas secretas
Y hay ramos de violetas cayendo
Por haber una noche de Primavera allá afuera
Sobre el yo estar de ojos cerrados...
V
Allá afuera van en remolino de sol los caballos del carrusel...
Árboles, piedras, montes bailan inmóviles dentro de mí...
Noche absoluta en la feria iluminada, luar en el día de sol allá
afuera,
Y todas las luces de la feria hacen ruidos de los muros del quintal...
Rondas de muchachas con cántaros en la cabeza
Que pasan allá fuera, plenas de estar bajo el sol,
Se cruzan con grandes grupos pegajosos de gente que anda en
la feria,
Gente mezclada con las luces de las barracas, con la noche y
con el luar,
Y los dos grupos se encuentran y se penetran
Hasta formar sólo uno que es los dos...
La feria y las luces de la feria y la gente que anda en la feria,
Y la noche que toma a la feria y la levanta en el aire,
Andan por encima de las copas de los árboles llenos de sol,
Andan visiblemente por abajo de los peñascos que lucen al sol,
Aparecen del otro lado de los cántaros que las muchachas
llevan sobre la cabeza,
Y todo este paisaje de primavera es la luna sobre la feria,
Y toda la feria con ruidos y luces es el suelo de este día de sol...
De repente alguien sacude como un tamiz esta hora doble
Y, mezclado, el polvo de las dos realidades cae
Sobre mis manos llenas de dibujos de puertos
Con grandes veleros que zarpan y no piensan regresar...
Polvo de oro blanco y negro sobre mis dedos...
Mis manos son los pasos de aquella muchacha que abandona la
feria,
Sola y contenta como el día de hoy...
VI
El maestro sacude la batuta,
Lánguida y triste irrumpe la música...
Me recuerda mi infancia, aquel día
En que jugaba al pie del muro de un patio
Lanzándole una pelota que tenía de un lado
El deslizar de un perro verde, y del otro lado
Un caballo azul que corría con jockey amarillo...
Prosigue la música, y he aquí en mi infancia
De repente entre mí y el maestro, muro blanco,
Va y viene la pelota, ora un perro verde,
Ora un caballo azul con un jockey amarillo...
Todo el teatro es mi patio, mi infancia
Está en todos los lugares, y la pelota viene a tocar música,
Una música triste y vaga que pasea en mi patio
Vestida de perro verde tornándose jockey amarillo...
(Tan rápida gira la pelota entre yo y los músicos...)
La lanzo contra mi infancia y ella
Atraviesa todo el teatro que está a mis pies
juega con un jockey amarillo y con un perro verde
Y un caballo azul que asoma por encima del muro
De mi patio... Y la música lanza pelotas
A mi infancia... Y el muro del patio está hecho de gestos
De batuta y de rotaciones confusas de unos perros verdes
Y caballos azules y jockeys amarillos...
Todo el teatro es un muro blanco de música
Por donde un perro verde corre tras de mi saudade
De mi infancia, caballo azul con un jockey amarillo...
Y de un lado a otro, de derecha a izquierda,
Donde hay árboles y entre las ramas al pie de la copa
Con orquestas para tocar música,
Para donde hay filas de pelotas en la tienda donde la compré
Y el hombre de la tienda sonríe entre las memorias de mi infancia..
Y la música cesa como un muro que se derrumba
La pelota rueda por el despeñadero de mis sueños interrumpidos,
y desde lo alto de un caballo azul, el maestro, jockey amarillo se
torna negro,
Agradece, colocando la batuta encima de la fuga de un muro,
Y se inclina, sonriendo, con una pelota blanca sobre la cabeza.
Pelota blanca que le desaparece por las cuestas...
Traducción
Miguel Ángel Flores
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Diario La Nación
Argentina
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Capiscum
My blogs are an open house to all cultures, religions and countries. Be a follower if you like it, with this action you are building a new culture of tolerance, open mind and heart for peace, love and human respect.
Thanks :)
Mis blogs son una casa abierta a todas las culturas, religiones y países. Se un seguidor si quieres, con esta acción usted está construyendo una nueva cultura de la tolerancia, la mente y el corazón abiertos para la paz, el amor y el respeto humano.
Gracias :)
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