Poesia: Fernando Pessoa - Antologia - Parte 12 - NADIE EN PLURAL - Álvaro de Campos - Ode Triunfal - Oda Triunfal - Em Portugues y Español - Miguel Ángel Flores traduccion
Posted by Ricardo Marcenaro | Posted in Poesia: Fernando Pessoa - Antologia - Parte 12 - NADIE EN PLURAL - Álvaro de Campos - Ode Triunfal - Oda Triunfal - Em Portugues y Español - Miguel Ángel Flores traduccion | Posted on 15:44
Open your mind, your heart to other cultures
Abra su mente, su corazón a otras culturas
You will be a better person
Usted será una mejor persona
RM
Abra su mente, su corazón a otras culturas
You will be a better person
Usted será una mejor persona
RM
ODE TRIUNFAL
6-1914
À DOLOROSA LUZ das grandes lâmpadas elétricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
Em febre e olhando os motores como a uma Naturaleza tropical—
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força —
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes elétricas
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta,
Átomos que hão de ir ter febre para o cérebro do Esquilo do
século cem,
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos
e por estes volantes,
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só carícia à
alma.
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!
Fraternidade com todas as dinâmicas!
Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrénuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de
transmissão!
Horas europeias, produtoras entaladas
Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés-oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
Os rumores e os gestos do Útil
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo!
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares!
Novos entusiasmos da estatura do Momento!
Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas às docas,
Ou a seco, erguidas, nos planos-inclinados dos portos!
Atividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific!
Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis,
Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots,
E Picadillies e Avenues de l'Opera que entram
Pela minh'alma dentro!
Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-la-hó la foule!
Tudo o que passa, tudo o que pára às montras!
Comerciantes; vadios; escrocs exageradamente bem-vestidos;
Membros evidentes de clubes aristocráticos;
Esquálidas figuras dúbias; chefes de família vagamente felizes
E paternais até na corrente de oiro que atravessa o colete
De algibeira a algibeira!
Tudo o que passa, tudo o que passa e nunca passa!
Presença demasiadamente acentuada das cocotes;
Banalidade interessante (e quem sabe o quê por dentro?)
Das burguesinhas, mãe e filha geralmente,
Que andam na rua com um fim qualquer;
A graça feminil e falsa dos pederastas que passam, lentos;
E toda a gente simplesmente elegante que passeia e se mostra
E afinal tem alma lá dentro!
(Ah, como eu desejaria ser o souteneur disto tudo!)
A maravilhosa beleza das corrupções políticas,
Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos,
Agressões políticas nas ruas,
E de vez em quando o cometa dum regicídio
Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus
Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana!
Notícias desmentidas dos jornais,
Artigos políticos insinceramente sinceros,
Notícias passez à-la-caisse, grandes crimes—
Duas colunas deles passando para a segunda página!
O cheiro fresco a tinta de tipografia!
Os cartazes postos há pouco, molhados!
Vients-de-paraître amarelos como uma cinta branca!
Como eu vos amo a todos, a todos, a todos,
Como eu vos amo de todas as maneiras,
Com os olhos e com os ouvidos e com o olfato
E com o tato (o que palpar-vos representa para mim!)
E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar!
Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!
Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da agricultura!
Química agrícola, e o comércio quase uma ciência!
Ó mostruários dos caixeiros-viajantes,
Dos caixeiros-viajantes, cavaleiros-andantes da Indústria,
Prolongamentos humanos das fábricas e dos calmos escritórios!
Ó fazendas nas montras! ó manequins! ó últimos figurinos!
Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar!
Olá grandes armazéns com várias seções!
Olá anúncios eléctricos que vêm e estão e desaparecem!
Olá tudo com que hoje se constrói com que hoje se é diferente
de ontem!
Eh, cimento armado, betom de cimento novos processos!
Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos!
Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos!
Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera.
Amo-vos carnivoramente,
Pervertidamente e enroscando a minha vista
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,
Ó coisas todas modernas,
Ó minhas contemporâneas, forma atual e próxima
Do sistema imediato do Universo!
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!
Ó fábricas, ó laboratórios, ó music-halls, ó Luna-Parks,
Ó couraçados, ó pontes, ó docas flutuantes —
Na minha mente turbulenta e incandescida
Possuo-vos como uma mulher bela,
Completamente vos possuo como uma mulher bela que não se
ama,
Que se encontra casualmente y se acha interessantíssima.
Eh-lá-hô fachadas das grandes lojas!
Eh-lá-hô elevadores dos grandes edifícios!
Eh-lá-hô recomposições ministeriais!
Parlamento, políticas, relatores de orçamentos,
Orçamentos falsificados!
(Um orçamento é tão natural como uma árvore
E um parlamento tão belo como uma borboleta.)
Eh-lá o interesse por tudo na vida,
Porque tudo é a vida, desde os brilhantes nas montras
Até à noite ponte misteriosa entre os astros
E o mar antigo e solene, lavando as costas
E sendo misericordiosamente o mesmo
Que era quando Platão era realmente Platão
Na sua presença real e na sua carne com a alma dentro,
E falava com Aristóteles, que havia de não ser discípulo dele.
Eu podia morrer triturado por um motor
Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuída.
Atirem-me para dentro das fornalhas!
Metam-me debaixo dos comboios!
Espanquem-me a bordo de navios!
Masoquismo através de maquinismos!
Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho!
Up-lá hó jóckey que ganhaste o Derby,
Morder entre dentes o teu cap de duas cores!
(Ser tão alto que não pudesse entrar por nenhuma porta!
Ah, olhar é em mim uma perversão sexual!)
Eh-lá, eh-lá, eh-lá catedrais!
Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas,
E ser levantado da rua cheio de sangue
Sem ninguém saber quem eu sou!
Ó tramways, funiculares, metropolitanos,
Roçai-vos por mim até ao espasmo!
Hilla, hilla, hilla-hô!
Dai-me gargalhadas em plena cara,
Ó automóveis apinhados de pândegos e de putas,
Ó multidões quotidianas nem alegres nem tristes das ruas,
Rio multicolor anónimo e onde eu me posso banhar como
quereria!
Ah, que vidas complexas, que coisas lá pelas casas de tudo isto!
Ah saber-lhes as vidas a todos, as dificultades de dinheiro,
As dissensões domésticas, os deboches que não se suspeitam,
Os pensamentos que cada um tem a sós consigo no seu quarto
E os gestos que faz quando ninguém pode ver!
Não saber tudo isto é ignorar tudo, ó raiva,
Ó raiva que como uma febre e um cio e um fome
Me põe a magro o rosto e me agita às vezes as mãos
Em crispações absurdas em pleno meio das turbas
Nas ruas cheias de encontrões!
Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma,
Que emprega palavrões como palavras usuais,
Cujos filhos roubam às portas das mercearias
E cujas filhas aos oito anos — e eu acho isto belo e amo-o—
Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada.
A gentalha que anda pelos andaimes e que vai para casa
Por vielas quase irreais de estreiteza e podridão.
Maravilhosa gente humana que vive como os cães,
Que está abaixo de todos os sistemas morais,
Para quem nenhuma religião foi feita,
Nenhuma arte criada,
Nenhuma política destinada para eles!
Como eu vos amo a todos, porque sois assim,
Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus,
Inatingíveis por todos os progressos,
Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida!
(Na nora do quintal da minha casa
O burro anda à roda, anda à roda,
E o mistério do mundo é do tamanho disto.
Limpa o suor com o braço, trabalhador descontente.
A luz do sol abafa o silêncio das esferas
E havemos todos de morrer,
Ó pinheirais sombrios ao crepúsculo,
Pinheirais onde a minha infância era outra coisa
Do que eu sou hoje...)
Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante!
Outra vez a obsessão movimentada dos ônibus.
E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos
os comboios
De todas as partes do mundo,
De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios,
Que a estas horas estão levantando ferro ou afastando-se das
docas.
Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado!
Ó cais, ó portos, ó comboios, ó guindastes, ó rebocadores!
Eh-lá grandes desastres de comboios!
Eh-lá desabamentos de galerias de minas!
Eh-lá naufrágios deliciosos dos grandes transatlânticos!
Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá,
Alterações de constituições, guerras, tratados, invasões,
Ruído, injusticias, violências, e talvez para breve o fim,
A grande invasão dos bárbaros amarelos pela Europa,
E outro sol no novo Horizonte!
Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto
Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo,
Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje?
Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento,
O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro,
O Momento estridentemente ruidoso e mecânico,
O Momento dinâmico passagem de todas as bacantes
Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais.
Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora do jantar,
Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos, mínimos,
Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar, de cavar,
Engenhos, brocas, máquinas rotativas!
Eia! eia! eia!
Eia eletricidade, nervos doentes da Matéria!
Eia telegrafïa-sem-fios, simpatia metálica do Insconciente!
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!
Eia todo o passado dentro do presente!
Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!
Eia! eia! eia!
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!
Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô!
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.
Engatam-me em todos os comboios.
Içam-me em todos os cais.
Giro dentro das hélices de todos os navios.
Eia! eia-hô eia!
Eia! sou o calor mecânico e a eletricidade!
Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa!
Eia e hurra por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia!
Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá!
Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hò, hup-lá!
Hé-lá! he-hô Ho-o-o-o-o!
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!
Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!
Londres
6-1914
À DOLOROSA LUZ das grandes lâmpadas elétricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
Em febre e olhando os motores como a uma Naturaleza tropical—
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força —
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes elétricas
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta,
Átomos que hão de ir ter febre para o cérebro do Esquilo do
século cem,
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos
e por estes volantes,
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só carícia à
alma.
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!
Fraternidade com todas as dinâmicas!
Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrénuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de
transmissão!
Horas europeias, produtoras entaladas
Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés-oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
Os rumores e os gestos do Útil
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo!
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares!
Novos entusiasmos da estatura do Momento!
Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas às docas,
Ou a seco, erguidas, nos planos-inclinados dos portos!
Atividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific!
Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis,
Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots,
E Picadillies e Avenues de l'Opera que entram
Pela minh'alma dentro!
Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-la-hó la foule!
Tudo o que passa, tudo o que pára às montras!
Comerciantes; vadios; escrocs exageradamente bem-vestidos;
Membros evidentes de clubes aristocráticos;
Esquálidas figuras dúbias; chefes de família vagamente felizes
E paternais até na corrente de oiro que atravessa o colete
De algibeira a algibeira!
Tudo o que passa, tudo o que passa e nunca passa!
Presença demasiadamente acentuada das cocotes;
Banalidade interessante (e quem sabe o quê por dentro?)
Das burguesinhas, mãe e filha geralmente,
Que andam na rua com um fim qualquer;
A graça feminil e falsa dos pederastas que passam, lentos;
E toda a gente simplesmente elegante que passeia e se mostra
E afinal tem alma lá dentro!
(Ah, como eu desejaria ser o souteneur disto tudo!)
A maravilhosa beleza das corrupções políticas,
Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos,
Agressões políticas nas ruas,
E de vez em quando o cometa dum regicídio
Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus
Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana!
Notícias desmentidas dos jornais,
Artigos políticos insinceramente sinceros,
Notícias passez à-la-caisse, grandes crimes—
Duas colunas deles passando para a segunda página!
O cheiro fresco a tinta de tipografia!
Os cartazes postos há pouco, molhados!
Vients-de-paraître amarelos como uma cinta branca!
Como eu vos amo a todos, a todos, a todos,
Como eu vos amo de todas as maneiras,
Com os olhos e com os ouvidos e com o olfato
E com o tato (o que palpar-vos representa para mim!)
E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar!
Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!
Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da agricultura!
Química agrícola, e o comércio quase uma ciência!
Ó mostruários dos caixeiros-viajantes,
Dos caixeiros-viajantes, cavaleiros-andantes da Indústria,
Prolongamentos humanos das fábricas e dos calmos escritórios!
Ó fazendas nas montras! ó manequins! ó últimos figurinos!
Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar!
Olá grandes armazéns com várias seções!
Olá anúncios eléctricos que vêm e estão e desaparecem!
Olá tudo com que hoje se constrói com que hoje se é diferente
de ontem!
Eh, cimento armado, betom de cimento novos processos!
Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos!
Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos!
Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera.
Amo-vos carnivoramente,
Pervertidamente e enroscando a minha vista
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,
Ó coisas todas modernas,
Ó minhas contemporâneas, forma atual e próxima
Do sistema imediato do Universo!
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!
Ó fábricas, ó laboratórios, ó music-halls, ó Luna-Parks,
Ó couraçados, ó pontes, ó docas flutuantes —
Na minha mente turbulenta e incandescida
Possuo-vos como uma mulher bela,
Completamente vos possuo como uma mulher bela que não se
ama,
Que se encontra casualmente y se acha interessantíssima.
Eh-lá-hô fachadas das grandes lojas!
Eh-lá-hô elevadores dos grandes edifícios!
Eh-lá-hô recomposições ministeriais!
Parlamento, políticas, relatores de orçamentos,
Orçamentos falsificados!
(Um orçamento é tão natural como uma árvore
E um parlamento tão belo como uma borboleta.)
Eh-lá o interesse por tudo na vida,
Porque tudo é a vida, desde os brilhantes nas montras
Até à noite ponte misteriosa entre os astros
E o mar antigo e solene, lavando as costas
E sendo misericordiosamente o mesmo
Que era quando Platão era realmente Platão
Na sua presença real e na sua carne com a alma dentro,
E falava com Aristóteles, que havia de não ser discípulo dele.
Eu podia morrer triturado por um motor
Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuída.
Atirem-me para dentro das fornalhas!
Metam-me debaixo dos comboios!
Espanquem-me a bordo de navios!
Masoquismo através de maquinismos!
Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho!
Up-lá hó jóckey que ganhaste o Derby,
Morder entre dentes o teu cap de duas cores!
(Ser tão alto que não pudesse entrar por nenhuma porta!
Ah, olhar é em mim uma perversão sexual!)
Eh-lá, eh-lá, eh-lá catedrais!
Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas,
E ser levantado da rua cheio de sangue
Sem ninguém saber quem eu sou!
Ó tramways, funiculares, metropolitanos,
Roçai-vos por mim até ao espasmo!
Hilla, hilla, hilla-hô!
Dai-me gargalhadas em plena cara,
Ó automóveis apinhados de pândegos e de putas,
Ó multidões quotidianas nem alegres nem tristes das ruas,
Rio multicolor anónimo e onde eu me posso banhar como
quereria!
Ah, que vidas complexas, que coisas lá pelas casas de tudo isto!
Ah saber-lhes as vidas a todos, as dificultades de dinheiro,
As dissensões domésticas, os deboches que não se suspeitam,
Os pensamentos que cada um tem a sós consigo no seu quarto
E os gestos que faz quando ninguém pode ver!
Não saber tudo isto é ignorar tudo, ó raiva,
Ó raiva que como uma febre e um cio e um fome
Me põe a magro o rosto e me agita às vezes as mãos
Em crispações absurdas em pleno meio das turbas
Nas ruas cheias de encontrões!
Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma,
Que emprega palavrões como palavras usuais,
Cujos filhos roubam às portas das mercearias
E cujas filhas aos oito anos — e eu acho isto belo e amo-o—
Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada.
A gentalha que anda pelos andaimes e que vai para casa
Por vielas quase irreais de estreiteza e podridão.
Maravilhosa gente humana que vive como os cães,
Que está abaixo de todos os sistemas morais,
Para quem nenhuma religião foi feita,
Nenhuma arte criada,
Nenhuma política destinada para eles!
Como eu vos amo a todos, porque sois assim,
Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus,
Inatingíveis por todos os progressos,
Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida!
(Na nora do quintal da minha casa
O burro anda à roda, anda à roda,
E o mistério do mundo é do tamanho disto.
Limpa o suor com o braço, trabalhador descontente.
A luz do sol abafa o silêncio das esferas
E havemos todos de morrer,
Ó pinheirais sombrios ao crepúsculo,
Pinheirais onde a minha infância era outra coisa
Do que eu sou hoje...)
Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante!
Outra vez a obsessão movimentada dos ônibus.
E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos
os comboios
De todas as partes do mundo,
De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios,
Que a estas horas estão levantando ferro ou afastando-se das
docas.
Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado!
Ó cais, ó portos, ó comboios, ó guindastes, ó rebocadores!
Eh-lá grandes desastres de comboios!
Eh-lá desabamentos de galerias de minas!
Eh-lá naufrágios deliciosos dos grandes transatlânticos!
Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá,
Alterações de constituições, guerras, tratados, invasões,
Ruído, injusticias, violências, e talvez para breve o fim,
A grande invasão dos bárbaros amarelos pela Europa,
E outro sol no novo Horizonte!
Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto
Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo,
Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje?
Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento,
O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro,
O Momento estridentemente ruidoso e mecânico,
O Momento dinâmico passagem de todas as bacantes
Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais.
Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora do jantar,
Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos, mínimos,
Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar, de cavar,
Engenhos, brocas, máquinas rotativas!
Eia! eia! eia!
Eia eletricidade, nervos doentes da Matéria!
Eia telegrafïa-sem-fios, simpatia metálica do Insconciente!
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!
Eia todo o passado dentro do presente!
Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!
Eia! eia! eia!
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!
Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô!
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.
Engatam-me em todos os comboios.
Içam-me em todos os cais.
Giro dentro das hélices de todos os navios.
Eia! eia-hô eia!
Eia! sou o calor mecânico e a eletricidade!
Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa!
Eia e hurra por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia!
Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá!
Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hò, hup-lá!
Hé-lá! he-hô Ho-o-o-o-o!
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!
Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!
Londres
ODA TRIUNFAL
6-1914
A la dolorosa luz de las grandes lámparas eléctricas de la fábrica
Tengo fiebre y escribo.
Escribo rechinando los dientes, fiera para la belleza de esto,
Esta belleza totalmente desconocida por los antiguos.
¡Oh, ruedas, oh engranajes, r-r-r-r-r-r-r eterno!
¡Fuerte espasmo retenido de los mecanismos en furia!
En furia fuera y dentro de mí,
Por todos mis nervios disecados afuera,
¡Por todas las papilas fuera de todo con que yo siento!
Tengo los labios secos, oh grandes ruidos modernos,
De oíros demasiado cerca,
Y me arde la cabeza de quereros cantar con un exceso
De expresión de todas mis sensaciones,
Con un exceso contemporáneo de vosotras, ¡oh máquinas!
En fiebre y mirando los motores como una naturaleza tropical—
Grandes trópicos humanos de hierro y fuego y fuerza—
Canto, y canto al presente, y también al pasado y al futuro,
Porque el presente es todo el pasado y todo el futuro
Y hay Platón y Virgilio dentro de las máquinas y en las luces
eléctricas
Sólo porque existieron otrora y fueron humanos Virgilio y Platón,
Y fragmentos de Alejandro Magno tal vez del siglo cincuenta,
Átomos que tendrán fiebre en el cerebro del Esquilo del siglo
cien,
Andan por estas correas de transmisión y por estos émbolos y por
estos volantes,
Rugiendo, rechinando, susurrando, estrujando, ferriando,
Haciéndome un exceso de caricias en el cuerpo en una sola caricia
al alma.
¡Ah, poder expresarme todo como se expresa un motor!
¡Ser completo como una máquina!
¡Poder ir en la vida triunfante como un automóvil último modelo!
Poder al menos impregnarme físicamente de todo esto,
Rasgarme todo, abrirme completamente, tornarme poroso
A todos los perfumes de aceite y calores y carbones
¡De esta flora estupenda, negra, artificial e insaciable!
¡Fraternidad con todas las dinámicas!
Furia promiscua de ser parte-agente
Del rodar férreo y cosmopolita
De los trenes fuertes,
De las faenas de transporte de los barcos de carga,
Del giro lúbrico y lento de las grúas,
Del tumulto disciplinado de las fábricas,
Y del cuasi silencio susurrante y monótono de las correas de
transmisión!
¡Horas europeas, productoras, entablilladas
Entre máquinas y trabajos utilitarios!
¡Grandes ciudades paradas en los cafés,
En los cafés-oasis de inutilidades ruidosas
Donde cristalizan y se precipitan
Los rumores y los gesto de lo Útil
Y las ruedas, y las ruedas dentadas y las chumaceras del Progreso!
¡Nueva Minerva sin alma de los muelles y de los andenes!
¡Nuevos entusiasmos de la estatura del Momento!
Quillas de planchas de hierro sonriente acostadas en los diques,
¡O en seco, erguidas, en los planos inclinados de los puertos!
Actividad internacional, transatlántica, Canadian-Pacific
Luces y febriles pérdidas de tiempo en los bares, en los hoteles,
En los Longchamps y Derbies y Ascots,
Y Piccadilly y Avenida de la Ópera que entran
Dentro de mi alma!
¡Qué tal calles, qué tal plazas, qué tal la foule!
¡Todo lo que pasa, todo lo que se detiene frente a los aparadores!
Comerciantes; vagos; vividores exageradamente bien vestidos;
Miembros notorios de clubs aristocráticos;
Escuálidas figuras dudosas; jefes de familia vagamente felices
Y paternales hasta en la cadena de oro que les cruza el chaleco
¡De bolsillo a bolsillo!
¡Todo lo que pasa, todo lo que pasa y nunca pasa!
Presencia demasiado acentuada de las cocotes;
Banalidad interesante (¿y quién sabe lo que hay por dentro?)
De las burguesitas, madre e hija generalmente,
Que andan por la calle sin un fin determinado;
La gracia femenina y falsa de los pederastas que pasan,
lentamente;
¡Y toda la gente simplemente elegante que pasea y se exhibe
Y que a pesar de todo tiene alma!
(¡Ah, como desearía ser el souteneur de todo esto!)
La maravillosa belleza de las corrupciones políticas,
Deliciosos escándalos financieros y diplomáticos,
Agresiones políticas en las calles,
Y de vez en cuando el cometa de un regicidio
Que ilumina de Prodigio y Fanfarria los cielos
Usuales y lúcidos de la Civilización cotidiana!
Noticias desmentidas de los periódicos,
Artículos políticos insinceramente sinceros,
Noticias passez-à-la-caisse, grandes crímenes—
¡A dos columnas y pase a la segunda página!
¡El olor fresco de la tinta de imprenta!
¡Los carteles pegados hace poco, aún húmedos!
¡Vients-de-paraître amarillos como una cinta blanca!
Cómo los amo a todos, a todos, a todos,
Como os amo de todas las maneras,
Con los ojos y los oídos y con el olfato
Y con el tacto (¡lo que significa para mí palparos!)
¡Y con la inteligencia como una antena que hacéis vibrar!
¡Ah, como todos mis sentidos tienen celo de vosotros!
¡Abonos, trilladoras de vapor, progresos de la agricultura!
¡Química agrícola, y el comercio casi una ciencia!
¡Oh, muestrario de los agentes viajeros,
De los agentes viajeros, caballeros andantes de la Industria,
Prolongaciones humanas de las fábricas y de las tranquilas oficinas!
Oh géneros en los aparadores! ¡oh maniquíes! ¡oh figurines
recientes!
¡Oh, artículos inútiles que todos quiere comprar!
¡Hola!, grandes almacenes con varios departamentos!
¡Hola!, anuncios eléctricos que miran, están y desaparecen!
¡Hola!, todo con que hoy se fabrica, que hoy se distingue de ayer!
¡Eh, cemento armado, concreto de cemento, nuevos
procedimientos!
¡Progreso de los armamentos gloriosamente mortíferos!
¡Corazas, cañones, ametralladoras, submarinos, aeroplanos!
Os amo a todos, a todo, como una fiera.
Os amo carnívoramente,
Pervertidamente y enroscando mi vista
En vosotras, oh grandes cosas, banales, útiles, inútiles,
¡Oh cosas todas modernas,
Oh mis contemporáneas, forma actual y próxima
Del sistema inmediato del Universo!
¡Nueva Revelación metálica y dinámica de Dios!
Oh, fábricas, oh laboratorios, oh music-hall, oh Luna-Parks,
Oh, acorazados, oh puentes, oh diques flotantes—
En mi mente turbulenta e incandescente
Os poseo como a una mujer bella,
Completamente os poseo como a una mujer bella que no se ama,
A la que se encuentra casualmente y hallamos interesantísima.
¡Hola-ho fachadas de las grandes tiendas!
¡Hola-ho elevadores de los grandes edificios!
¡Hola-ho cambios ministeriales!
¡Parlamentos, políticas, relatores de presupuestos,
Presupuestos falsificados!
(Un presupuesto es tan natural como un árbol
Y un parlamento tan bello como una mariposa).
Hola el interés por todo en la vida,
Porque todo es la vida, desde los brillantes en los aparadores
Hasta la noche, puente misterioso entre los astros
Y el mar antiguo y solemne, bañando las costas
Y siendo misericordiosamente el mismo
Que era cuando Platón era realmente Platón
En su presencia real y en su carne con el alma dentro,
Y hablaba con Aristóteles, que no había de ser su discípulo.
Yo podría morir triturado por un motor
Con el sentimiento de deliciosa entrega de una mujer poseída.
¡Arrojadme a los hornos!
¡Metedme debajo de los trenes!
¡Azotadme a bordo de los barcos!
¡Masoquismo a través de maquinismos!
¡Sadismo de no sé qué moderno y yo mismo y barullo!
Hupla-ho jinete ganador del Derby,
¡Morder entre dientes tu gorra bicolor!
(¡Ser tan alto que no pudiera entrar por ninguna puerta!
¡Ah, mirar es para mí una perversión sexual!)
¡Eh-la, eh-la, eh-la, catedrales!
¡Dejadme romper la cabeza en vuestras esquinas,
Y ser recogido de la calle ensangrentado
¡Qué nadie sepa quién soy!
¡Oh tranvías, funiculares, metropolitanos,
Restregaos en mí hasta el espasmo!
¡Hilla! ¡huía! ¡hilla-ho!
Escupidme carcajadas en plena cara,
¡Oh, automóviles atestados de juerguistas y de putas,
Oh, multitudes cotidianas ni alegres ni tristes en las calles,
Río multicolor anónimo donde me puedo bañar como quería!
¡Ah, qué vidas complejas, qué de cosas en las casas de todo esto!
¡Ah, enterarse de la vida de todos, las dificultades de
dinero,
Los pleitos domésticos, los libertinajes que no se sospechan,
Los pensamientos que cada uno tiene a solas en su cuarto
Y los gestos que hace cuando nadie lo puede ver!
No saber todo esto es ignorar todo, oh rabia,
¡Oh, rabia que como una fiebre y un celo y una avidez
Me pone magro el rostro y me agita a veces las manos
Con absurdas crispaciones en plena mitad de las turbas en las
calles llenas de encontronazos!
¡Ah, y la gente ordinaria y sucia, que parece siempre la misma,
Que emplea palabrotas como palabras comunes,
Cuyos hijos roban en las puertas de las mercerías
Y cuyas hijas a los ocho años—y esto lo encuentro hermoso y lo
amo!—
Mas turban hombres de aspecto decente en los vanos de las
escaleras.
¡La gentuza que trepa a los andamios y regresa a casa
Por callejuelas casi irreales de estrechez y podredumbre.
Maravillosa gente humana que vive como los perros,
Que está por debajo de todos los sistemas morales,
Para quien ninguna religión se hizo,
Ni ningún arte se ha creado,
Ni ninguna política destinada a ellos!
¡Como os amo a todos por ser así,
Ni inmorales de tan bajos que sois, ni buenos ni malos,
Inalcanzables por todos los progresos,
Fauna maravillosa del fondo del mar de la vida!
(En la noria del huerto de mi casa
El burro da vueltas y vueltas,
Y el misterio del mundo es del tamaño de esto.
Limpia el sudor con el brazo, trabajador descontento.
La luz del sol sofoca el silencio de las esferas
Y habremos todos de morir,
Oh pinares sombríos al crepúsculo,
Pinares donde mi infancia era otra cosa
De lo que hoy soy...)
¡Mas, ah, otra vez la rabia mecánica, constante!
Otra vez la obsesión del movimiento de los autobuses.
Y otra vez la furia de estar yendo al mismo tiempo dentro de
todos los trenes
De todas partes del mundo,
De estar diciendo adiós a bordo de todos los barcos,
Que a estas horas levan anclas o se alejan de los muelles.
¡Oh hierro, oh acero, oh aluminio, oh planchas de hierro ondulado!
¡Oh muelles, oh puertos, oh trenes, oh grúas, oh remolcadores!
¡Eh-la grandes desastres de trenes!
¡Eh-la el derrumbe de las galerías de las minas!
¡Eh-la naufragios deliciosos de los grandes transatlánticos!
¡Eh-la-ho revoluciones aquí, allá, acullá,
¡Cambios de constituciones, guerras, tratados, invasiones,
Ruido, injusticias, violencias, y tal vez pronto el final,
La gran invasión de los bárbaros amarillos por Europa,
Y otro Sol en el nuevo Horizonte!
¿Qué importa todo esto, mas qué importa todo esto
Al fúlgido y encarnado ruido contemporáneo,
Al ruido cruel y delicioso de la civilización actual?
Todo esto acalla todo, salvo el Momento,
El Momento de tronco desnudo y caliente como un horno,
El Momento estridentemente ruidoso v mecánico,
El Momento dinámico pasaje de todas las bacantes
Del hierro y del bronce y de la borrachera de los metales.
Eh-a trenes, eh-a puentes, eh-a hoteles a la hora de la cena,
Eh-a aparejos de todas las especies, férreos, brutales, mínimos,
Instrumentos de precisión, trituradoras, cavadoras,
Ingenieros, brocas, máquinas rotativas!
¡Eh-a! ¡eh-a! ¡eh-a!
¡Eh-a electricidad, nervios enfermos de la Materia!
¡Eia telegrafía sin hilos, simpatía metálica del Inconsciente!
¡Eh-a túneles, eh-a canales, Panamá, Kiel, Suez!
¡Eh-a todo el pasado dentro del presente!
¡Eh-a todo el futuro ya dentro de nosotros! ¡eh-a!
Eia! eia! eia!
¡Frutos de hierro y herramienta del árbol-fábrica cosmopolita!
¡Eh-a! ¡eh-a! ¡eh-a!
No sé que existo hacia dentro. Giro, doy vueltas, me ingenio.
Me enganchan en todos los trenes.
Me izan en todos los muelles.
Giro en las hélices de todos los barcos.
¡Eh-a! ¡eh-a-ho! ¡eh-a!
¡Eh-a! ¡soy el calor mecánico y la electricidad!
¡Eh-a! y los rieles y las casas de máquinas y Europa!
¡Eh-a y hurra por mí todo, y todo máquinas, que trabajan, eh-a!
¡Trepar con todo por encima de todo! ¡Hup-la!
¡Hup la, hup la, hup-la-ho, hup-la!
¡He-ha! ¡He-ho! ¡Ho-o-o-o-o!
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!
¡Ah no ser yo toda la gente y toda la parte!
Londres
6-1914
A la dolorosa luz de las grandes lámparas eléctricas de la fábrica
Tengo fiebre y escribo.
Escribo rechinando los dientes, fiera para la belleza de esto,
Esta belleza totalmente desconocida por los antiguos.
¡Oh, ruedas, oh engranajes, r-r-r-r-r-r-r eterno!
¡Fuerte espasmo retenido de los mecanismos en furia!
En furia fuera y dentro de mí,
Por todos mis nervios disecados afuera,
¡Por todas las papilas fuera de todo con que yo siento!
Tengo los labios secos, oh grandes ruidos modernos,
De oíros demasiado cerca,
Y me arde la cabeza de quereros cantar con un exceso
De expresión de todas mis sensaciones,
Con un exceso contemporáneo de vosotras, ¡oh máquinas!
En fiebre y mirando los motores como una naturaleza tropical—
Grandes trópicos humanos de hierro y fuego y fuerza—
Canto, y canto al presente, y también al pasado y al futuro,
Porque el presente es todo el pasado y todo el futuro
Y hay Platón y Virgilio dentro de las máquinas y en las luces
eléctricas
Sólo porque existieron otrora y fueron humanos Virgilio y Platón,
Y fragmentos de Alejandro Magno tal vez del siglo cincuenta,
Átomos que tendrán fiebre en el cerebro del Esquilo del siglo
cien,
Andan por estas correas de transmisión y por estos émbolos y por
estos volantes,
Rugiendo, rechinando, susurrando, estrujando, ferriando,
Haciéndome un exceso de caricias en el cuerpo en una sola caricia
al alma.
¡Ah, poder expresarme todo como se expresa un motor!
¡Ser completo como una máquina!
¡Poder ir en la vida triunfante como un automóvil último modelo!
Poder al menos impregnarme físicamente de todo esto,
Rasgarme todo, abrirme completamente, tornarme poroso
A todos los perfumes de aceite y calores y carbones
¡De esta flora estupenda, negra, artificial e insaciable!
¡Fraternidad con todas las dinámicas!
Furia promiscua de ser parte-agente
Del rodar férreo y cosmopolita
De los trenes fuertes,
De las faenas de transporte de los barcos de carga,
Del giro lúbrico y lento de las grúas,
Del tumulto disciplinado de las fábricas,
Y del cuasi silencio susurrante y monótono de las correas de
transmisión!
¡Horas europeas, productoras, entablilladas
Entre máquinas y trabajos utilitarios!
¡Grandes ciudades paradas en los cafés,
En los cafés-oasis de inutilidades ruidosas
Donde cristalizan y se precipitan
Los rumores y los gesto de lo Útil
Y las ruedas, y las ruedas dentadas y las chumaceras del Progreso!
¡Nueva Minerva sin alma de los muelles y de los andenes!
¡Nuevos entusiasmos de la estatura del Momento!
Quillas de planchas de hierro sonriente acostadas en los diques,
¡O en seco, erguidas, en los planos inclinados de los puertos!
Actividad internacional, transatlántica, Canadian-Pacific
Luces y febriles pérdidas de tiempo en los bares, en los hoteles,
En los Longchamps y Derbies y Ascots,
Y Piccadilly y Avenida de la Ópera que entran
Dentro de mi alma!
¡Qué tal calles, qué tal plazas, qué tal la foule!
¡Todo lo que pasa, todo lo que se detiene frente a los aparadores!
Comerciantes; vagos; vividores exageradamente bien vestidos;
Miembros notorios de clubs aristocráticos;
Escuálidas figuras dudosas; jefes de familia vagamente felices
Y paternales hasta en la cadena de oro que les cruza el chaleco
¡De bolsillo a bolsillo!
¡Todo lo que pasa, todo lo que pasa y nunca pasa!
Presencia demasiado acentuada de las cocotes;
Banalidad interesante (¿y quién sabe lo que hay por dentro?)
De las burguesitas, madre e hija generalmente,
Que andan por la calle sin un fin determinado;
La gracia femenina y falsa de los pederastas que pasan,
lentamente;
¡Y toda la gente simplemente elegante que pasea y se exhibe
Y que a pesar de todo tiene alma!
(¡Ah, como desearía ser el souteneur de todo esto!)
La maravillosa belleza de las corrupciones políticas,
Deliciosos escándalos financieros y diplomáticos,
Agresiones políticas en las calles,
Y de vez en cuando el cometa de un regicidio
Que ilumina de Prodigio y Fanfarria los cielos
Usuales y lúcidos de la Civilización cotidiana!
Noticias desmentidas de los periódicos,
Artículos políticos insinceramente sinceros,
Noticias passez-à-la-caisse, grandes crímenes—
¡A dos columnas y pase a la segunda página!
¡El olor fresco de la tinta de imprenta!
¡Los carteles pegados hace poco, aún húmedos!
¡Vients-de-paraître amarillos como una cinta blanca!
Cómo los amo a todos, a todos, a todos,
Como os amo de todas las maneras,
Con los ojos y los oídos y con el olfato
Y con el tacto (¡lo que significa para mí palparos!)
¡Y con la inteligencia como una antena que hacéis vibrar!
¡Ah, como todos mis sentidos tienen celo de vosotros!
¡Abonos, trilladoras de vapor, progresos de la agricultura!
¡Química agrícola, y el comercio casi una ciencia!
¡Oh, muestrario de los agentes viajeros,
De los agentes viajeros, caballeros andantes de la Industria,
Prolongaciones humanas de las fábricas y de las tranquilas oficinas!
Oh géneros en los aparadores! ¡oh maniquíes! ¡oh figurines
recientes!
¡Oh, artículos inútiles que todos quiere comprar!
¡Hola!, grandes almacenes con varios departamentos!
¡Hola!, anuncios eléctricos que miran, están y desaparecen!
¡Hola!, todo con que hoy se fabrica, que hoy se distingue de ayer!
¡Eh, cemento armado, concreto de cemento, nuevos
procedimientos!
¡Progreso de los armamentos gloriosamente mortíferos!
¡Corazas, cañones, ametralladoras, submarinos, aeroplanos!
Os amo a todos, a todo, como una fiera.
Os amo carnívoramente,
Pervertidamente y enroscando mi vista
En vosotras, oh grandes cosas, banales, útiles, inútiles,
¡Oh cosas todas modernas,
Oh mis contemporáneas, forma actual y próxima
Del sistema inmediato del Universo!
¡Nueva Revelación metálica y dinámica de Dios!
Oh, fábricas, oh laboratorios, oh music-hall, oh Luna-Parks,
Oh, acorazados, oh puentes, oh diques flotantes—
En mi mente turbulenta e incandescente
Os poseo como a una mujer bella,
Completamente os poseo como a una mujer bella que no se ama,
A la que se encuentra casualmente y hallamos interesantísima.
¡Hola-ho fachadas de las grandes tiendas!
¡Hola-ho elevadores de los grandes edificios!
¡Hola-ho cambios ministeriales!
¡Parlamentos, políticas, relatores de presupuestos,
Presupuestos falsificados!
(Un presupuesto es tan natural como un árbol
Y un parlamento tan bello como una mariposa).
Hola el interés por todo en la vida,
Porque todo es la vida, desde los brillantes en los aparadores
Hasta la noche, puente misterioso entre los astros
Y el mar antiguo y solemne, bañando las costas
Y siendo misericordiosamente el mismo
Que era cuando Platón era realmente Platón
En su presencia real y en su carne con el alma dentro,
Y hablaba con Aristóteles, que no había de ser su discípulo.
Yo podría morir triturado por un motor
Con el sentimiento de deliciosa entrega de una mujer poseída.
¡Arrojadme a los hornos!
¡Metedme debajo de los trenes!
¡Azotadme a bordo de los barcos!
¡Masoquismo a través de maquinismos!
¡Sadismo de no sé qué moderno y yo mismo y barullo!
Hupla-ho jinete ganador del Derby,
¡Morder entre dientes tu gorra bicolor!
(¡Ser tan alto que no pudiera entrar por ninguna puerta!
¡Ah, mirar es para mí una perversión sexual!)
¡Eh-la, eh-la, eh-la, catedrales!
¡Dejadme romper la cabeza en vuestras esquinas,
Y ser recogido de la calle ensangrentado
¡Qué nadie sepa quién soy!
¡Oh tranvías, funiculares, metropolitanos,
Restregaos en mí hasta el espasmo!
¡Hilla! ¡huía! ¡hilla-ho!
Escupidme carcajadas en plena cara,
¡Oh, automóviles atestados de juerguistas y de putas,
Oh, multitudes cotidianas ni alegres ni tristes en las calles,
Río multicolor anónimo donde me puedo bañar como quería!
¡Ah, qué vidas complejas, qué de cosas en las casas de todo esto!
¡Ah, enterarse de la vida de todos, las dificultades de
dinero,
Los pleitos domésticos, los libertinajes que no se sospechan,
Los pensamientos que cada uno tiene a solas en su cuarto
Y los gestos que hace cuando nadie lo puede ver!
No saber todo esto es ignorar todo, oh rabia,
¡Oh, rabia que como una fiebre y un celo y una avidez
Me pone magro el rostro y me agita a veces las manos
Con absurdas crispaciones en plena mitad de las turbas en las
calles llenas de encontronazos!
¡Ah, y la gente ordinaria y sucia, que parece siempre la misma,
Que emplea palabrotas como palabras comunes,
Cuyos hijos roban en las puertas de las mercerías
Y cuyas hijas a los ocho años—y esto lo encuentro hermoso y lo
amo!—
Mas turban hombres de aspecto decente en los vanos de las
escaleras.
¡La gentuza que trepa a los andamios y regresa a casa
Por callejuelas casi irreales de estrechez y podredumbre.
Maravillosa gente humana que vive como los perros,
Que está por debajo de todos los sistemas morales,
Para quien ninguna religión se hizo,
Ni ningún arte se ha creado,
Ni ninguna política destinada a ellos!
¡Como os amo a todos por ser así,
Ni inmorales de tan bajos que sois, ni buenos ni malos,
Inalcanzables por todos los progresos,
Fauna maravillosa del fondo del mar de la vida!
(En la noria del huerto de mi casa
El burro da vueltas y vueltas,
Y el misterio del mundo es del tamaño de esto.
Limpia el sudor con el brazo, trabajador descontento.
La luz del sol sofoca el silencio de las esferas
Y habremos todos de morir,
Oh pinares sombríos al crepúsculo,
Pinares donde mi infancia era otra cosa
De lo que hoy soy...)
¡Mas, ah, otra vez la rabia mecánica, constante!
Otra vez la obsesión del movimiento de los autobuses.
Y otra vez la furia de estar yendo al mismo tiempo dentro de
todos los trenes
De todas partes del mundo,
De estar diciendo adiós a bordo de todos los barcos,
Que a estas horas levan anclas o se alejan de los muelles.
¡Oh hierro, oh acero, oh aluminio, oh planchas de hierro ondulado!
¡Oh muelles, oh puertos, oh trenes, oh grúas, oh remolcadores!
¡Eh-la grandes desastres de trenes!
¡Eh-la el derrumbe de las galerías de las minas!
¡Eh-la naufragios deliciosos de los grandes transatlánticos!
¡Eh-la-ho revoluciones aquí, allá, acullá,
¡Cambios de constituciones, guerras, tratados, invasiones,
Ruido, injusticias, violencias, y tal vez pronto el final,
La gran invasión de los bárbaros amarillos por Europa,
Y otro Sol en el nuevo Horizonte!
¿Qué importa todo esto, mas qué importa todo esto
Al fúlgido y encarnado ruido contemporáneo,
Al ruido cruel y delicioso de la civilización actual?
Todo esto acalla todo, salvo el Momento,
El Momento de tronco desnudo y caliente como un horno,
El Momento estridentemente ruidoso v mecánico,
El Momento dinámico pasaje de todas las bacantes
Del hierro y del bronce y de la borrachera de los metales.
Eh-a trenes, eh-a puentes, eh-a hoteles a la hora de la cena,
Eh-a aparejos de todas las especies, férreos, brutales, mínimos,
Instrumentos de precisión, trituradoras, cavadoras,
Ingenieros, brocas, máquinas rotativas!
¡Eh-a! ¡eh-a! ¡eh-a!
¡Eh-a electricidad, nervios enfermos de la Materia!
¡Eia telegrafía sin hilos, simpatía metálica del Inconsciente!
¡Eh-a túneles, eh-a canales, Panamá, Kiel, Suez!
¡Eh-a todo el pasado dentro del presente!
¡Eh-a todo el futuro ya dentro de nosotros! ¡eh-a!
Eia! eia! eia!
¡Frutos de hierro y herramienta del árbol-fábrica cosmopolita!
¡Eh-a! ¡eh-a! ¡eh-a!
No sé que existo hacia dentro. Giro, doy vueltas, me ingenio.
Me enganchan en todos los trenes.
Me izan en todos los muelles.
Giro en las hélices de todos los barcos.
¡Eh-a! ¡eh-a-ho! ¡eh-a!
¡Eh-a! ¡soy el calor mecánico y la electricidad!
¡Eh-a! y los rieles y las casas de máquinas y Europa!
¡Eh-a y hurra por mí todo, y todo máquinas, que trabajan, eh-a!
¡Trepar con todo por encima de todo! ¡Hup-la!
¡Hup la, hup la, hup-la-ho, hup-la!
¡He-ha! ¡He-ho! ¡Ho-o-o-o-o!
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!
¡Ah no ser yo toda la gente y toda la parte!
Londres
Poesia: Fernando Pessoa - Antologia - Part 1 - IMPRESSÕES DO CREPÚSCULO - IMPRESIONES DEL CREPÚSCULO
Poesia: Fernando Pessoa - Antologia - Parte 10 - NADIE EN PLURAL - Álvaro de Campos - Opiario - Em Portugues y Español - Miguel Ángel Flores traduccion Poesia: Fernando Pessoa - Antologia - Parte 11 - NADIE EN PLURAL - Álvaro de Campos - Soneto Ja Antigo - Soneto ya antiguo - Em Portugues y Español - Miguel Ángel Flores traduccion
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Poesia: Fernando Pessoa - Antologia - Parte 12 - NADIE EN PLURAL - Álvaro de Campos - Ode Triunfal - Oda Triunfal - Em Portugues y Español - Miguel Ángel Flores traduccion
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